domingo, 20 de janeiro de 2013

Roteiro para leitura-fichamento de textos (2002)


[GOMES-DE-LIMA, Paulo Roberto. Roteiro para leitura-fichamento de textos. In: ______. Para gostar de ler e escrever - sala de aula interdisciplinar: espaço-tempo de estudar e educa são esses? Revista Pedagogia em Ação, Serra-ES, v. 3, n.3, p. 103-125, jun. 2002.]

“1. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS (COMO)
              
                                       “Não, não tenho  caminho novo.
O que tenho de novo é o jeito de caminhar.
Aprendi (o caminho me ensinou) a caminhar cantando
como  convém a mim e aos que vão comigo.
Pois não vou mais sozinho.”
                                                              Thiago de Mello, A Vida Verdadeira (poema), 1978

O presente estudo constitui-se, inicialmente, em pesquisa descritiva, para revisitar a literatura e respectiva bibliografia pertinente na área desejada pelo interessado como processo teórico-metodológico das abordagens de investigação didática educacional e de intervenção pedagógica educativa no contorno do “fenômeno temático”.
Para esses fins, a pesquisa bibliográfica especifica o trabalho, buscando informações e dados em geral, com intenção de fornecer conhecimentos de bases teórico-metodológica substanciando os saberes úteis e necessários à análise e discussões correspondentes, com isto apresentando-se contributos para subsidiar o trabalho de investigação e/ou de intervenção pretendidos e planejados.
Nesse processo de revisão bibliográfica verifica-se o que os autores percebem e descrevem da realidade, contradições contextuais (ou não) e o que apresentam como alternativas possíveis para prováveis soluções sobre o tema em  foco, tendo como referencial as  suas concepções filosóficas, científicas e/ou tecnológicas-instrumentais.
Daí, quando procedente, tece-se comentários (análises e discussões) contracenando com a temática e problemática. (Acrescente-se que os dados informativos tem sua coleta no percurso de temas pertinentes ao assunto em livros, dicionários, jornais, folhetos, revistas especializadas, dissertações e monografias, disponíveis no acervo da Universidade  e outras Instituições de Ensino disponíveis.).

2. TEMATIZAÇÃO: OS ATOS E OS FATOS DO “QUE FAZER” METODOLÓGICO

                                 “Amor, trabalho e conhecimento são as fontes de               
                                             nossas vidas; deveriam, também, governá-las”.
                                                                   Wilhelm Reich, Psicologia de Massas do Fascismo,   1988

Dando curso a esta comunicação docente, apresenta-se o que se constitui todo o conjunto de material consultado e referenciado no decorrer dos estudos e pesquisa bibliográfica realizados anteriormente, no sentido de instrumentalizar o ato de estudar educando-se.

Revisitando os autores, intencionou-se com isto buscar a garantia de envolver-se no diálogo silencioso da leitura e das interpretações decorrentes, apropriando conteúdos da literatura consultada, no sentido do aprofundamento de conhecimentos e aquisição de saberes necessários para sustentação teórico-metodológica ao “mostrar”, “explicar”, “fundamentar” e “argumentar” os discursos e as práticas teórico-metodológicas no contorno de estudos, pesquisas, projetos, eventos em geral para “responder” sobre as questões sobre corpo, movimento e jogo - entendidos elementos de cultura e objetos de relações situacionais internas (pessoais), sociais (relacionamentos interpessoais) e iinterculturais compartilhadas (produções de saberes e fazeres  práticos aplicados à realidade circundante, e até distante).

Além disso, importa também, apresentar correspondentes ilustrações práticas aplicadas para “responder” às indagações pertinentes nessas e noutras atividades acadêmicas e tecnológicas pretendidas, onde se inscrevem premissas acentuando as possibilidades de relações desses saberes com a prática da investigação didática educacional e/ou da intervenção pedagógica educativa no trabalho da Educação “formal” na escola, como também, no contexto informal” não-escolar que “ocorre na própria vivência da cultura”, como acena Antônio de Muniz Rezende, acrescentando que “é vivendo que os indivíduos e grupos aprendem ‘a maneira de ser’ que os caracteriza” 1 da vida interpessoal e intercultural compartilhada na comunidade em geral.

Neste percurso do encontro com a literatura, a técnica de estudar educando-se ganha seus sentidos apropriados, concorrendo seguridade, claridade, e demais cuidados nos empréstimos de conteúdos, para, em conjunto com eles, objetivar, justificar, delimitar, explicitar, argumentar, enfim, dar corpo à tematização, avaliação dinâmica e reelaboração temática de contexto, bem como, do olhar sobre as análises e discussões proceder reflexões indicando conclusões e recomendações considerativas finais em cada atividade em pauta.

Sim, são recomendações tais, convidativas aos leitores,  na perspectiva e expectativa de encontros dialógicos, com isto, prosseguindo turnos e returnos de outros estudos (e pesquisas) concorrentes à produção de novos (ou outros) dimensionamentos do conhecimento produzido social, cultural compartilhado e historicamente produzido.

Nesse quadro da realidade acadêmica em exercício, apresenta-se o roteiro ou “Protocolo de Leitura e Fichamento de Texto”, elaborado por este autor, creditando facilidades técnicas ao ato de ler e escrever como convocação além da língua (escrita e oral), ou seja, que conhecendo e relacionando-se com o texto, aprenda-se outras linguagens (olhar, gesto, espaço, imagens retratadas das informações veiculadas, formas, sons e tons da comunicação etc),

Acredita-se que assim lido, o dito  despede-se da literatura (do silencioso encontro da leitura e escrita) e ganha corpo vivo e vivido na corporificação do leitor participativo da nova encenação dos fatos em atos seus. No contorno desse “roteiro”, o leitor terá a seu dispor instrumental devido para os passos do ler (pista 1) e do fichar (pista 2), como se distingue , tão logo em seguida.
2.1 - Pé na Estrada da Leitura e Escrita: Protocolo de Atuação Técnica

“A estrutura cultural simbólica (...)
comporta vários tópicos ou lugares de manifestação do sentido,
nos quais tomam corpo
e se constituem as diversas formas do relacionamento entre o homem e o mundo.
A educação é um desses tópicos. (...).
(...) é vivendo
que os indivíduos e  grupos
aprendem ‘a maneira de ser’ que os caracteriza.”
Antônio Muniz de Rezende, filósofo, O Discurso Pedagógico, 1990

De antemão cumpre relembrar que todo conhecimento é uma produção histórica humana, portanto, que a leitura e usufruto deste texto sejam feitos de forma crítico-reflexiva, recomenda-se. Neste particular os descuidos com a educação para leitura e escrita representam sério agravante para o desempenho acadêmico no trabalho escolar, em todos os níveis de ensino.

De embarque nestes alertas indicativos, que se passe ao exercício refletindo sobre o convite ao ler e escrever, evocando-se que todo estudante precisa, logo, começar a fazê-lo.

Nesta expectativa e perspectiva, abrem-se, pois, todas as cortinas, encenando-se os atos que se seguem como exercício participante. E o primeiro ato se representa  dentro do “roteiro de leitura-fichamento” que se apresenta em seguida.     

2.1.1 - Justificativas do Roteiro de Leitura-Fichamento de Texto
“Fica decretado que(...).
Fica proibido a palavra liberdade
a qual será suprimida (...) do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante a liberdade
Será algo vivo e transparente
Como um fogo ou um rio,
Ou como a semente do trigo,
E a sua morada será sempre o coração do homem.”
Thiago de Mello, poeta amazonense, Estatutos do Homem, 1987

Nesta parte do trabalho, o presente texto constitui-se em instrumento teórico-metodológico utilizado  no exercício de revisitar  a literatura pertinente em trabalhos acadêmicos em geral, tendo sido construído em virtude das dificuldades verificadas no desempenho de acadêmicos do ensino superior diante do ato de ler e escrever textos. A constatação de tal evidência e   incidência diante da exigência, tanto no ato de leitura quanto no de proceder o devido fichamento da matéria em estudo, dão-se conforme pontuado em  notas de estudos e pontos de vista deste autor, resultantes de trabalhos acadêmicos na orientação de práticas de leitura e escrita em salas de aula (GOMES-DE-LIMA, 2002).

Nestes sentidos, o anunciado deste roteiro acadêmico se presta utilmente ao desempenho do estudante nos trabalhos de Pesquisa Bibliográfica,  buscando informações e dados em geral, com intenção de fornecer conhecimentos de bases teóricas para elaboração de subsídios teórico-metodológicos sobre a temática eleita pelo interessado em seus estudos e pesquisas, anotações e pontos de vista, dentre  os procedimentos orientados pela teoria e prática técnico-científica.

Ao utilizar este roteiro no processo de revisão bibliográfica, o pesquisador e os estudantes em geral, deverão procurar e  verificar o que os autores percebem e descrevem da realidade, contradições contextuais (ou não) e o que apresentam como alternativas possíveis para prováveis soluções sobre o tema em  foco. 

Disto feito, quando procedente, caberão tecer comentários (análises e discussões) contracenando-os com a temática e problemática, objetos de sua investigação. (E julgando oportuno um parêntese aqui, indica-se aos iniciantes que os dados informativos a serem coletados poderão acontecer, percorrendo temas pertinentes ao assunto em livros, dicionários, jornais, folhetos, revistas especializadas, teses, dissertações e monografias, disponíveis no acervo das universidades, bem como em outras Instituições de Ensino disponíveis).

2.1.2 - Roteiro de Leitura e Fichamento de Textos: Protocolo de Atuação
“Analfabeto não é aquele que não sabe ler,
 mas aquele que aprende e nunca lê”.
Mário Quintana, escritor e poeta gaúcho, Máxima, sd

Finalmente, definindo os procedimentos técnicos no sentido de nortear o exercício de leitura e fichamento no trajeto da pesquisa bibliográfica pretendida, levantando-se os dados desejados e necessários em leituras, em seguida anuncia-se “roteiro” para revisão de literatura, para a pesquisa bibliográfica, em relação ao levantamento de dados necessários, procedendo-se conforme “Roteiro para Leitura e Fichamento de Textos” elaborado por Gomes-de-Lima (2002, 2004a).

Julgando-se conveniente, transcreve-se o referido roteiro a seguir, tendo-se em conta que nesta parte do trabalho acadêmico, procede-se à pesquisa bibliográfica revisitanto a literatura pertinente e disponível no momento, tomando-se por orientação aquele “roteiro”, sugerindo trajeto  percorrendo “pista dupla”[1] na página lida, cujo processo de dupla dinâmica durante a leitura do texto em foco se dá na seguinte ordem:

-                     Pista 1 (plano de leitura), cujos três passos destacam o    (1) vocabulário-chave do tema ( indicando os termos ou objetos relacionais construtivos do texto e variáveis), (2) os  autores  citados  e  as   (3) tendências  teóricas  (implícitas       ou explícitas) que norteiam o marco referencial.

[Observação técnica: “A Pista 1” favorece ao leitor distinguir no “discurso” comunicado pelo texto, todo um “repertório linguístico” que se serve de um vocabulário, “que se constitui aos poucos e de maneira seletiva, em função das necessidades do próprio discurso” (REZENDE, 1990, p. 92)2, entendendo-se que, desconhecer o vocabulário (termos-chaves) na Pista de Leitura (item 1) dificultará o acesso à mensagem do discurso proferido pelo autor no texto, pois que o vocabulário ou “termos-chaves”  identificam-se com os autores e suas tendências político-ideológicas que, inclusive, denotam referências para os paradigmas que norteiam o eixo do sentir e pensar do autor ao “mostrar”, “explicar”, “fundamentar”, “argumentar” e “responder” (M.E.F.A.R) às indagações ou questões pertinentes a que se reporta o texto. Portanto, afirma-se “o código para a interpretação destes repertórios só pode ser encontrado na trama semântica do discurso, na qual se descobre a particularização do sentido que sua utilização lhe confere naquele determinado contexto”, pontua Rezende (p. 92). E, acrescenta Rezende, “sem o conhecimento do repertório e do código correspondente, não se consegue chegar ao sentido que nos textos pretendem transmitir” (p. 92).]

- Pista 2 (plano de fichamento),  cujas  anotações  extraídas  representam   o que os autores:
A.   Percebem-descrevem da realidade enfocada em seu movimento;
      B. Destacam  como  contradições  contextuais  (ou não)  no  quadro      
          dessa realidade em desenvolvimento;
      C. Apresentam  como  alternativas ou perspectivas para prováveis  
      soluções problemáticas para  intervenção   no   quadro   dessa   
      mesma  realidade em    seu  movimento,    levadas    em    conta   as    
      concepções   em   suas representações.
                 D. A partir daqui, proceder-se em reelaborações temáticas desse   
                 percurso, tecendo comentários pessoais (análises e discussões 
                 parciais), se necessários forem no momento, para efetuar inter-
                relações com o objeto de estudo do trabalho acadêmico em 
               desenvolvimento, ou, noutro caso, resguardar apara os
               procedimentos posteriores de análises e discussões e/ou
               considerações finais.

[Chama-se atenção para o exercício de avaliação dinâmica e reelaboração temática (item D - Pista 2), ainda aconselhando-se com Rezende , pontuando que “em especial, não é possível utilizar o repertório e mesmo o código de um autor ou corrente filosófica para se interpretar os outros”; quer dizer, “por exemplo, não se pode adotar o repertório marxista para se interpretar a fenomenologia”, no entanto, Rezende acena para o fato de que “pode-se, é evidente, ‘marxizar’ a respeito da fenomenologia, mas isto não significa, necessariamente, que a decodificação da mensagem terá sido feita de maneira adequada” (Op. cit., p.92).

Em mais palavras, Rezende, ainda nessa direção, exemplifica apontando que “na perspectiva da fenomenologia, passa a ser importante o confronto e o conflito das interpretações”, pois isso “implica que os interlocutores sejam representantes autênticos das diversas correntes confrontadas” (Op. cit., p. 92).

Em outras palavras, proceder tal revisitar os autores, com isto buscar a garantia de envolver-se no diálogo  silencioso da leitura   e das interpretações decorrentes, apropriando-se de conteúdos no sentido  do  aprofundamento de conhecimentos para sustentação teórica referencial deste estudo pretendido.

Na revisão de literatura os autores são apontados para releitura, julgando-se prudente anotar que o conhecimento é uma produção histórica, portanto, que cada leitor deva reler e utilizar cada texto de forma crítica, tirando-lhe todos os proveitos e saberes necessários à construção de todas as práticas corporais educativas.

Finalmente, para nortear o exercício de leitura-fichamento no trajeto da pesquisa bibliográfica pretendida no contorno do fenômeno temático, do recurso essencial das atividades motoras e das técnicas corporais, e, especialmente, o eixo norteador do Paradigma da prática refletida,  leva-se a efeito o levantamento de dados desejados e necessários em leituras, no sentido de “mostrar”, “explicar”, “fundamentar”, “argumentar” e “responder” às indagações pertinentes ao objeto de estudo em pauta. Para tal, apresenta-se em seguida, o anunciado “roteiro” para revisão de literatura, para tal sugerindo trajeto  percorrendo “pista dupla” na página lida, cujo processo de dupla dinâmica durante a leitura do texto em foco.

Finalmente, definidos os procedimentos técnicos no sentido de nortear o exercício de leitura e fichamento no trajeto da pesquisa bibliográfica pretendida, levantando-se os dados desejados e necessários em leituras, tem-se em conta o que se anunciou com este “roteiro” para revisão de literatura adequada à pesquisa bibliográfica, em relação ao levantamento de dados necessários aos estudos pretendidos, reafirma-se e relembrando-se a máxima  do escritor e poeta gaúcho Mário Quintana pontuando que o fato de que “Analfabeto não é aquele que não sabe ler, mas aquele que aprende e nunca lê”. (GOMES-DE-LIMA, 2002, p. 108-110).”



1 1 REZENDE, Antônio Muniz de. O discurso pedagógico - repertório e código de interpretação. In: ______. Concepção fenomenológica da educação. São Paulo : Cortez : Autores associados, 1990,  p. 87. Coleção polêmicas do nosso tempo; v. 38)
[1] As Pistas 1 (Plano de Leitura) e 2 (Plano de Fichamento) foram elaboradas  (1991) a partir da orientação da Professora MARIA APARECIDA DE LIMA ÁVILA E CARVALHO (DÉCADA (80-90), mestre em Antropologia e Professora Adjunta do Departamento de Ciência Social (CEG-UFES).
2  REZENDE, Antônio Muniz de. O discurso pedagógico - repertório e código de interpretação. In: ______. Concepção fenomenológica da educação. São Paulo : Cortez : Autores associados, 1990, p. 86-92. Coleção polêmicas do nosso tempo; v. 38)

Nenhum comentário:

Postar um comentário